Autor: Jorge Marin
Tentamos imprimir uma
grandiosidade nas coisas que sabemos e falamos, mas, na realidade, as coisas
que importam na vida são reveladas em momentos simples, em conversas infantis e
na hora em que o nosso pensamento está distante.
Adaptação da postagem do blog Pitomba
http://grupopitomba.blogspot.com.br/2015/05/a-esperanca-nao-e-uma-coisa-solida.html
A passagem bíblica do
pré-adolescente Jesus ensinando aos doutores no templo é um instante
iluminador, não pelas palavras que aquele menino disse, mas, principalmente,
pela disposição daqueles homens, tidos como “sábios”, em ouvi-lo.
Quem sabe ouvir, aprende. E
quem aprende, dizia Paulo Freire, ensina a aprender. Caminhando com o meu filho
para a escola, somos abordados pela exibição de alguns panfletos e revistas de
determinada religião, onde o destaque é a palavra ESPERANÇA.
– Que será que estão dizendo
sobre a palavra “esperança” – pergunta ele.
– Provavelmente, que a
esperança é a última que morre – brinco.
– A esperança nunca morre,
pai.
– Por que, meu filho?
– Não morre porque a
esperança não é uma coisa sólida. Só coisas sólidas morrem!
Escutando aquela declaração
assim tão erudita, fiquei pensando se talvez não fosse melhor deixá-lo em casa
filosofando (e, naturalmente, jogando videogame) do que levá-lo à escola.
Eu, do alto dos meus quase
sessenta anos de pura e renovada ignorância, fico pensando assim: se a
esperança não é uma coisa sólida, e não é mesmo, por que é que passamos a vida achando
que as pessoas, e o mundo, vão mudar para melhor?
E o que seria esse “melhor”
senão um comportamento ideal que está apenas na minha cabeça? Se, para mim, um
mundo melhor seria um lugar onde as pessoas não se metessem na vida alheia,
para minha vizinha de porta um mundo ideal seria um lugar onde as pessoas
fossem mais fraternas.
Já estou muito velho para me
iludir de cara limpa. Sei que a tendência do ser humano não é ser bonzinho. Cada
ser humano é tanto mais maldoso quanto o desejo dele se diferencia do meu
desejo. Ceder ao desejo do próximo é sinal de fraqueza (alguns dizem que é
amor); impor o meu desejo ao outro é prepotência, ou, numa versão mais
aceitável, marketing.
Pelo menos, perder a
esperança já não me pesa tanto, agora que sei que ela não é uma coisa sólida,
como aprendi com meu filho.
Adaptação da postagem do blog Pitomba
Imagem: br.pinterest.com/sbazote
O instante iluminador que o autor menciona, ligado ao filosofar do filho sobre a esperança, é o tipo de coisa que me faz desejar que meus netos (quando os tiver) não frequentem a escola...
ResponderExcluirA educação formal tende a reprimir a sabedoria pessoal, nos encaixando no molde do socialmente desejável, que nos poda em alguns aspectos ao mesmo tempo em que nos preenche com conceitos e hábitos desnecessários em nossa singularidade.
ExcluirMas qual seria a fórmula ideal para nos educar sem nos empobrecer como indivíduos?
Esta curiosidade e sabedoria empírica das crianças, ainda não lapidadas pelas convenções, é uma boa referência de como as sociedades vão polindo seus membros, num processo que parece mais desgastante do que edificante.