segunda-feira, 28 de maio de 2018

Noturno

Calada noite barulhenta
Autora: Paula Jenevain Grazinoli

   Na calada da noite, quando minha cama se aquece, meu corpo não para. É o sono que não aparece. Remexo sem parar e o silêncio me ensurdece. Cada barulho é um mistério: o cachorro latindo parece um leão; o armário rangendo, suspeita de ladrão!
   Faço prece, conto carneiros, meu rosto envelhece. Mas dormir que é bom... esquece! Tento então pensar, mas os pensamentos não obedecem. Brincam comigo. Não querem sonhar, querem sim dançar! Criam histórias e revivem fatos reais. Deixam o subconsciente pra lá e da realidade tornam-se amigos leais.
   Os olhos abrem e fecham como uma porta na ventania. Os pés balançam como em uma coreografia. O tempo vai passando e agonia, agonia! E quanto mais me lembro da hora, mais pensamento aflora. É culpa da minha boêmia imaginação, que no sussurro da noite aparece, me ensandece por hora e não tem pressa de ir embora.
   Dançam lápis e caneta, formando garranchos de letras tortas e pernetas. Ai de mim se não obedecer às letras. Elas rebolam, mostrando a hora da animação. Ai de mim se tentar dormir e não deixar liberar a endorfina da minha nervosa inspiração!

Adaptação do texto retirado da página 96 do livro
Feio, Belo, Complexo Cotidiano
Juiz de Fora: Funalfa, 2012.

Imagem: raquelschuindt.blogspot.com.br