sexta-feira, 28 de abril de 2017

IntegrAção


Imagem: facebook.com (Green Renaissanse)
Marysville (Austrália)
Escultura: Bruno Torfs

ArrumAção

Manual de limpeza de um monge budista
Autor: Keisuke Matsumoto  

Livro que mostra como os princípios budistas podem ser usados nas tarefas diárias por qualquer pessoa, sem a necessidade de um caráter religioso, como uma referência de atitudes que podem melhorar a eficiência e satisfação de como nos colocamos no mundo.
Mesmo não desejando ou conseguindo manter o nível de excelência proposto pelo livro, acho interessante ter em mente como tarefas corriqueiras podem ser significadas com ações e sensações enriquecedoras.

Com letras espaçadas, textos curtos e muitas ilustrações, a leitura deste livro é rápida e enriquecedora. Dividido em 7 partes, trata da ideia de limpeza, dos utensílios, das áreas internas e externa da casa, terminando com a limpeza do corpo e da alma e considerações sobre atitudes a se observar após a limpeza.
Ótimo livro para se ter e reler esporadicamente. Também um presente útil para pessoas que valorizam a saúde espiritual.
Compartilho os trechos abaixo como amostra.

Imagem retirada da página. 93 do livro
Ilustração: Kikue Tamura

"A limpeza vai além do simples e repetitivo trabalho braçal. [...] Visite um templo budista e perceberá que suas dependências estão sempre impecáveis. Um dos motivos é expressar as boas vindas aos visitantes.Outro motivo é manter a ordem e limpeza do seu interior através da atenção e cuidados com o exterior onde habita. [...] Limpeza não é considerada um estorvo, algo que deve ser concluído o mais rápido possível. Dizem que um dos discípulos de Buda alcançou o nirvana fazendo nada menos do que varrer. Limpar não é o contrário de sujar, é uma prática que conduz ao aperfeiçoamento espiritual."
(Págs. 13 e 14)

"O que é lixo? Aquilo que é velho, inútil? Objetos não nascem lixo, tornam-se quando alguém os desgasta ou quebra, quando passa a enxerga-los nessa condição. [...] Quem não respeita os objetos tampouco respeita as pessoas. Se tudo se tornará inútil e desnecessário em algum momento, então tudo é potencialmente lixo.
Os objetos demandam energia e tempo para serem criados, e carregam em si parte de seus criadores. Ao limpar e organizar sua casa, não os manuseie de forma rude e tenha gratidão.
Por outro lado, isso não é justificativa para acumular objetos sem utilidade. Mesmo velhos, os objetos ainda guardam vida dentro de si e, se os doarmos, eles poderão ser úteis a alguém. [...]
Permita que os objetos que lhe serviram possam exercer suas funções para terceiros – seja-lhes grato e repasse-os. Isso é valorizá-los."
(Págs. 15 e 16)

"Antes de iniciar a faxina, abra as janelas e troque o ar ambiente, purificando-o com a brisa de fora. [...]
Na primavera e no outono os dias são agradáveis e o vento prazeroso. O ar quente do verão e gélido do inverno também são bons. O ato da limpeza nos possibilita comunicar com a natureza. [...]
O ser humano é frágil e incapaz de sobreviver na natureza selvagem. Impossibilitado de se colocar desprotegido, ele precisa criar ambientes artificiais habitáveis. [...]
Abra as janelas e conviva com a natureza, consciente da fraqueza inerente que nos impossibilita coabitar com as criaturas selvagens. Sinta a gentileza e agressividade da natureza, grato pela insustentável força da vida.
Todas as manhãs, abra as janelas e dê boas-vindas ao ar puro."
(Págs. 19 e 20)

"Não lamente o ontem e não anseie o amanhã. Concentre as energias no agora.
O ser humano moderno, sempre ocupado, volta para casa exauridoe só deseja relaxar no banho, jantar e dormir. Na manhã seguinte acorda com o ônus do dia anterior – louça suja, roupa para lavar, cômodos empoeirados.
Bagunçou? Arrume imediatamente! Não deixe as sementes da preguiça e da ruína germinarem em sua mente. Se negligenciada, a sujeira do espírito se torna difícil de remover. Não adie e viva cada dia de forma plena e agradável, o mais próximo possível do seu ideal."
(Págs. 27 e 28)

"A cozinha do templo sempre se encontra impecavelmente limpa, e seus utensílios nos lugares adequados. Uma cozinha organizada permite começar imediatamente o trabalho, com satisfação. A cozinha é onde os alimentos se transformam em energia de vida, portanto um local de atenção e reverência. Enquanto na cozinha, se concentre nos detalhes no manuseio dos alimentos e objetos. Optar pela conveniência de manter abertas portas de armários é sinal de que o espírito está preguiçoso ou desorientado. Feche a porta dos armários toda vez que retirar algo. Isso previne acúmulo de poeira, possíveis encontrões e a lassidão espiritual. [...]
Os alimentos são seres vivos sacrificados para que mantenhamos nossa vida. Evitar desperdícios no preparo e comer apenas a quantidade necessária ao bem estar são sinais de gratidão e respeito pelo conceito de vida em geral, afirmando que nossa vida não vale mais do que outras e todas estão interligadas."
(Pág. 52)
                                          
"Nos templos, é investida grande quantidade de energia à limpeza do banheiro. [...]Não há aposento que melhor represente a casa do que o banheiro. Caso precise utilizá-lo,o convidado ficará sozinho num ambiente onde sua atenção se voltará para os detalhes. Sujeira no assento, poeira no chão, papel higiênico quase no fim: se o ambiente estiver negligenciado, a impressão da casa como um todo e do anfitrião se comprometem. [...]
Banheiros são os locais onde purificamos nossos corpos, de modo que sua limpeza deve ser absoluta. Num ambiente imaculado, as pessoas sentem-se impelidas a conservá-lo assim, demonstrando, ainda, preocupação com o próximo."
(Págs. 57 a 59)

"Ignorância é ausência de luz, o estado de vagar a esmo na escuridão. O fato de a verdade ser invisível fertiliza o surgimento das paixões e dos desejos mundanos, cujo resultado é o sofrimento. O que destrói a ignorância é a sabedoria. [...] Ser iluminado com a luz da sabedoria é finalmente se libertar.
Limpe as luminárias como se polisse a fonte de luz da sabedoria, que elimina a ignorância e os pensamentos impuros."
(Pág. 112)

"O jardim é o local onde nos comunicamos com a natureza. Embora seja impossível vivermos nela, é impossível sobreviver sem. O jardim se torna o lugar em que aprofundamos o conhecimento sobre esse delicado equilíbrio. Há templos que fazem do jardim uma metáfora da natureza, outros optam por representar a Terra pura.
O modo como enxergamos o jardim reflete nosso espírito no momento. Sujeito ao clima e estações, o jardim é efêmero. [...] O jardim é uma área de comunicação entre o homem e a natureza. [...]
Evite o uso de herbicidas. Eles influenciam na qualidade do solo e prejudicam minhocas e outros animais. Cuidar do jardim é estar atento a todos os seus componentes. As formas de vida estão conectadas. No diálogo com a natureza, nosso espírito se enriquece. Observe-a e, assim, observará sua alma."
(Págs. 121 a 123)

"Os vidros simbolizam transparência e desapego. Caso estejam embaçados ou com marcas de dedos, o espírito se encontra igualmente maculado.
O budismo reitera a importância de eliminar a visão nublada pelo egoísmo e enxergar a essência das coisas, aceitando-as como elas são. Faça isso com naturalidade e você alcançará o estado mental da compreensão.
Esfregue os vidros das janelas até ficarem límpidos e você consiga contemplar a paisagem além, esquecendo-se de sua própria existência.
Limpe até não restar sequer um ponto turvo."
(Pág. 125)

"Acredita-se que liberdade é fazer o que se quer na hora em que se deseja. Porém, a liberdade, de fato, é viver em paz, com o coração pleno de felicidade. E isso se obtém somando cada uma de nossas ações. O tempo dedicado à limpeza, por exemplo, traz uma sensação de plenitude que se estende durante a permanência no ambiente."
(Pág. 170)

Textos adaptados retirados do livro
Manual de limpeza de um monge budista
(Keisuke Matsumoto)
São Paulo: Editora Planeta, 2015.


Segundo o budismo, fazer faxina significa remover a sujeira do espírito e dos hábitos cotidianos. É por isso que o dia dos monges começa com a limpeza. Neste livro, o monge Keisuke Matsumoto ensina como cuidar da casa pode tornar nossa vida melhor e mais íntegra. São dicas simples e práticas, seguidas de referências filosóficas. Baseando-se nos princípios do budismo, o tempo dedicado à limpeza pode trazer uma sensação de contato com o presente e consigo, levando à plenitude. Vale a pena tentar.

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